Sim, o Brasil tem trutas! Poucas pessoas sabem, mas nosso país possui uma população respeitável dessas espécies, e já teve muito mais. Nesta reportagem, você vai descobrir porque vale a pena pescar trutas no Brasil.
Nada de Patagônia, América do Norte ou Rússia. Vamos pescar truta no Brasil! O mundo é legal porque oferece coisas diferentes. E aqui no Brasil, temos um tipo de pesca de truta diferente do resto do mundo.

Tanto para aquele que quer apenas pescar seu peixinho como para quem quer abraçar a técnica desse peixe que fez a cabeça e conquistou o coração de milhares e milhares no mundo afora, o nosso país apresenta um tipo específico de pesca esportiva: a pesca de truta na montanha. Nossos rios têm um nível de dificuldade imposto por suas condições, que diferem do resto do mundo. Trata-se de rios pequenos, rápidos, rasos e com vegetação ao redor, o que difere de rios semelhantes do norte da Argentina. Mesmo existindo na Europa algo bem parecido – a exemplo da região dos Pirineus, na Espanha -, temos a diferença da transparência da água, o que já muda muito. É por isso que a pesca de truta de montanha brasileira é única. E há um universo a ser descoberto.

A CHEGADA DA TRUTA AO PAÍS
A truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) é originária do Hemisfério Norte e foi introduzida na América do Sul em 1904, na Argentina, e em 1905 no Chile, onde se ambientou muito bem e se tornou um forte vetor de desenvolvimento turístico. Entretanto, em águas tupiniquins, elas nadam oficialmente desde 1949, quando o médico veterinário Dr. Ascânio de Faria importou cinco mil ovos da Dinamarca. Esses alevinos foram introduzidos nos rios Jacu Pintado e Bonito, em São Paulo, na Serra da Bocaina (município de Bananal), onde a sua reprodução passou a ser monitorada nos anos seguintes.
Porém, em nossas andanças, ouvimos relatos diferentes dos dados oficiais: a truta podia ser encontrada no rio Macaé de Cima, Rio de Janeiro, desde 1929. Os principais motivos para sua importação foram o seu cultivo para fins comerciais, devido ao fato de ser considerada uma carne nobre. Sua introdução nos rios de serra brasileiros, por sua vez, levou em conta a exploração da pesca esportiva.

Com o passar dos anos, vários estados passaram a ter produção de trutas para fins comerciais, o que consequentemente levou esse peixe para vários rios do país. Sabe-se que nos anos de 1978 e 1979 o Estado de Santa Catarina deu um grande passo com a criação da estação de truticultura de Lages, e depois a Painel, com as quais, em seus primeiros anos, foram soltos 500 mil alevinos nos rios da serra catarinense, sem falar de iniciativas privadas.

Essa foi uma iniciativa governamental, da prefeitura de Lages com apoio do BID/SUDEP, que buscou alavancar a produção comercial de salmonídeos na região e povoar os rios para pesca esportiva. Não é preciso dizer que isso se converteu em uma população respeitável, com relatos de capturas de trutas de proporções patagônicas nas décadas seguintes. Isso elevou rios, como o Lava-tudo, o Pelotas e o Canoas, por exemplo, a status de paraíso. Mais recentemente, a grande população de trutas do Rio Caveiras, Urubici e Rio do Tigre atrai mosqueiros de todos os cantos do país. Sem falar na Joia-rara da serra catarinense, o recém descoberto rio Criolas e suas trutas enormes capturadas num típico rio de montanha, de água baixa e pesca técnica.
PARAÍSO DOS MOSQUEIROS NO BRASIL
Alguns lugares do Brasil se tornaram verdadeiramente celeiros de formação de mosqueiros, a exemplo do município de São José dos Ausentes, no Rio Grande do Sul, que há 20 anos possui projetos ligados à pesca com mosca, começando pelo “Graxaim Carçado” e, recentemente, o projeto “Pró-Ausentes”. Entretanto, em Minas Gerais, o belíssimo rio Aiuruoca, em Itamonte, na Serra da Bocaina, foi ponto comum de truteiros do sudoeste, com o rio cuidado por pescadores e por uma pousada da região. Já no Rio de Janeiro, o lendário Macaé de Cima, ou MDC, ajudou a desenvolver uma legião de pescadores em suas límpidas águas. No Estado do Paraná, houve introdução de trutas nas cidades de Guarapuava, Malé e Inácio Martins, entre outras, e hoje, mesmo depois de uma matança descontrolada, voltou a ter bons relatos de pesca de trutas e se iniciam projetos de proteção a essa espécie.

FALTA PROTEÇÃO
Nas últimas décadas, estoques de trutas dos rios no Brasil sofreram uma redução considerável pela pesca predatória. No momento em que as iniciativas governamentais cessaram, a truta passou a contar com a sua permanência nos rios brasileiros devido a seus esforços de reprodução e por projetos tocados por pescadores, pela iniciativa privada (pousadas) e por entidades, como a “ABPM” e a “Rota da Truta”. Trata-se de rios pequenos, que passam por dentro de propriedade privadas, em uma região que se acostumou a matar truta – hábito que poderia ser tolerado se a quantidade de espécimes abatidos não comprometesse a sobrevivência da espécie. Dessa forma, alguns municípios já começaram a legislar projetos que preveem a proteção da truta, transformando esse peixe em objeto de interesse municipal. Municípios como Urupema, Itamonte, Painel, Rio Rufino, Urubici e São Joaquim já seguiram essa ideia. Nesses locais, a pesca tem sido mais promissora, trazendo mais divisas à cidade e a toda a cadeia ligada à pesca esportiva.

Um alento para a permanência da truta é a portaria 145/98 do Ibama, que permite o manejo de salmonídeos em rios nos quais eles já existam, desde que o Estado desse rio produza os ovos. Sabe-se que o Brasil possui mais de 20 rios com trutas, alguns com quantidade, outros com qualidade, mas muitos com dificuldades, o que para o mosqueiro pode ser uma coisa legal, pois proporciona o desafio da captura da truta.
Portando, no momento em que se veem pescadores gastando um valor bastante razoável para pescar truta em várias partes do mundo, nada mais oportuno que mostrar que aqui tem essa espécie, e não é só pequenina. Em um rio do Brasil tem um belo troféu esperando por você, e mais, tem um tipo de pesca divertida em locais de beleza natural invejável.

Rogério Batista – “Jamanta”.
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